quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Colaboração MEF / Super Foto Prática

Publicado na Secção Revelações da Revista Super Foto Prática nº135 Ano XII Março 2009

Tânia Araújo é natural de Lisboa, onde nasceu em 1980. No seu trabalho fotográfico de autor, encontramos dois caminhos perfeitamente distintos em termos temáticos que uma vez analisados pormenorizadamente, nos revelam diversos pontos em comum.

Em “Cidades anónimas”, trabalho realizado em (e sobre) os bairros periféricos da Cidade, a autora trabalha a complexidade das pequenas narrativas em torno da questão do anonimato provocado por estes espaços urbanos.Nesta abordagem, Tânia Araújo aponta-nos um caminho sobre o anonimato enquanto uma espécie de “voyeurismo”, reflectido pela distância a que as imagens são realizadas, numa atitude assumida de distância física, sentimento reforçado pela luz do fim de tarde e pelo isolamento dos edifícios. A inexistência da presença humana faz com que se estabeleça um diálogo sem qualquer focalização espacial, permitindo-nos assim a construção de um entendimento à escala global.

Sem a mesma carga de anonimato, mas procurando igualmente uma reflexão sobre a identidade urbana e sobre a arquitectura de espaços numa cidade, encontramos em “Horas que passam sem ninguém ver”, uma abordagem a zonas industriais onde, camuflada pelas luzes nocturnas, a autora permite-nos questionar a complexidade sociocultural em torno dos espaços habitados.

Dentro do campo da encenação, Tânia Araújo oferece-nos “Metamorfoses do corpo”, trabalho em que o “voyeurismo” possui um carácter muito mais intimista, realizado numa abordagem muito mais pessoal, trabalhando o anonimato do corpo feminino enquanto espaço cénico. A faceta performativa da autora ganha uma presença de enorme relevo ao ponto de quase se sentir a presença física da autora também retratada. O corpo encontra-se em plena metamorfose, não se trata de aceitá-lo como ele é, mas sim de transformá-lo e reconstruí-lo numa incorporação do corpo no espaço, ganhando este uma identidade única.Constatamos assim, uma linha transversal nos projectos de Tânia Araújo: a abordagem ao anonimato seja ele comunitário através dos espaços urbanos, seja ele mais pessoal, onde a interpretação do corpo acaba por nos dar uma espécie de reflexo da própria autora, como se de um espelho se tratasse.

Texto: Luis Rocha